quinta-feira, 30 de abril de 2009

Liberté, Igualité, Fraternité.

Ontem, ainda em Curitiba, aproveitei coisas que amo na cidade em companhia d'eu, eu mesma e sem Irene. Cinema sozinha, a principal delas. E assisti a um filme que queria ver há muito tempo: O Leitor. Resumidamente, a película levou diversos prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Atriz, todos para Kate Winslet. O crime trata de Segunda Guerra, embora o conflito seja apenas um coadjuvante na história.

Mas não é bancar a pseudo-crítica de cinema que quero. Não hoje. Deixarei o Rubens Ewald Filho que há em mim quieto e contarei como coloquei um tiquinho do meu lado Che (filme que também vi) pra fora.

Tenho o hábito de não sair correndo, como se o cinema fosse explodir, quando a sessão termina. Quase sempre fico até o fim dos créditos e sou a última a sair. Quarta, não foi diferente. Mas, para minha surpresa, começo a ouvir gritos na sala, logo atrás de mim. Olho e um senhor, de seus 50 e poucos anos, discutia com um rapaz, de seus 20 e poucos. A questão: o rapaz era homossexual e estava ali, com o namorado. Sentados na última fileira, como observei assim que entrei. Já uma espécie de apartheid, para não serem incomodados e não "incomodarem".

Porém, esse homem, visivelmente consternado, ficou mais preocupado em olhar para trás do que para a frente, aonde ficam localizadas a maior parte das telas de cinema, imagino eu. Algo se apoderou de mim e, não aguentei: entrei na discussão. Enquanto o velhote (desculpem, me faltam sinônimos e um dicionário, no momento) falava que merecia respeito e mandava os garotos se retirarem da sala, pois ele não era obrigado a aguentar semvergonhice. O menino dizia que tinha o mesmo direito de estar ali que ele. De imediato, imaginei ser um funcionário do cinema e, simultaneamente ao meu pensamento, o jovem perguntou: "O senhor trabalha aqui?". E, aquele ser descontrolado, continuava argumentando que estava ali, merecia respeito e exigia que o casal se retirasse. Não, vocês não leram errado nem eu cometi uma falha de continuidade: os créditos finais estavam passando, as luzes estavam acesas e as outras CINCO pessoas que também assistiram ao filme já haviam se retirado. Não consigo lembrar muito bem o que falei, antes de ambos partirem para as vias de fato. Mas, talvez para compensar todas as vezes que presenciei uma injustiça e fiquei calada, pulei entre os dois marmanjos para apartar a briga, enquanto a segurança do cinema não chegava. Rapidamente, dois funcionários uniram-se a mim e, claro, com sucesso, encerraram essa parte degradante da cena.

Continuei batendo boca com aquele homem que me causou asco, por um tempo. Eu tremia. Mas não conseguia parar. Alguns podem pensar "mas isso não dizia respeito a ela". Como boa parte da audiência sabe, tenho um GRANDE número de amigos homossexuais e circulo com muita desenvoltura no meio. E isso já era assim desde os tempos de faculdade, em que minha pauta preferida para desenvolver matérias era essa. Tenho dois pés muito bem fincados no arco-íris, com orgulho.

Provavelmente, essa história não vai dar em nada, como tantas outras que presenciamos todos os dias. Acredito que o rapaz agredido, não foi a uma delegacia. Aliás, não lembro do outro envolvido fazer nada mais além de dizer para seu parceiro "deixar pra lá e ir embora". Casos de homofobia são extremamente comuns. Assim como casos de preconceitos étnicos. E olha que a Lei Áurea já foi assinada há quase 121 anos...

De qualquer maneira, eu me senti em paz comigo mesma, por finalmente colocar em prática TODO UM DISCURSO que tenho há anos... Egocêntrico de minha parte? Opa, com certeza. Mas, pelo menos dessa vez, não pedi apenas uma McFritas e um McColosso.


Tenho isso em minha geladeira. Devia ser colado na TESTA do velhote.



5 comentários:

  1. Não vamos mudar o mundo, mas pelo menos, com cada um fazendo sua parte, a coisa pode ficar mais amigavel ;)

    ResponderExcluir
  2. Vixe, já assisti e fiz parte de tanto momento homofóbicos que não daria para contar com duas mãos.

    ResponderExcluir
  3. na testa não, que ele não ia conseguir ler. tatuado nos braços seria melhor.
    eu também tenho mania de ficar na sala até os créditos finais!
    e cara, acho certo sim a gente tentar combater esses preconceitos. até me animei pra escrever um post com algumas considerações sobre o tema e tal.

    ResponderExcluir
  4. Vi isso daqui e lembrei do teu post:

    http://www.correiobraziliense.com.br/html/sessao_13/2009/04/30/noticia_interna,id_sessao=13&id_noticia=103822/noticia_interna.shtml

    ResponderExcluir
  5. Depoimento de uma pessoa em fase (eterna) de tolerância: "Dou aula em academia e atendo a vários IDOSOS, VELHOS, ANCIÃOS, enfim, como quiserem ler e interpretar, dependendo do seu grau de raiva deles. Sou obrigado a engoli-los di-a-ri-a-men-te mas esse é o meu trabalho: eu os tolero e no fim do mês ganho a grana que eles pagam pra academia. Mas confesso que não é nada agradável conviver com os velhos. Eles são chatos, descoordenados, babam, perdem a dentadura, são surdos e ainda têm inveja de mim pela minha juventude, ho ho... Aí vc agora me pergunta: Preconceito? E eu respondo: SIM! IGUAL AO QUE ELES SENTEM E FAZEM QUESTÃO DE DEMONSTRAR PELOS GAYS. Como diz minha amiga autora do texto acima: bala trocada não dói. BjomeencontranaTwiga!

    ResponderExcluir