quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Não tinha medo o tal João do Santo Cristo...

Foi Caetano que disse "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Provavelmente ouvi essa música pela primeira vez em algum programete péla-saco na Casa da Cachaça, um dos nossos redutos londrinenses. Show dos Acústicos Y Guerreiros? Pode ser também. E lá se foi mais de uma década.

Há cerca de 1 ano, fiz minha primeira visita a um psiquiatra (antes disso, só terapia com psicólogo). Foi durante uma crise braba, na qual o diagnóstico era Transtorno de Stress Pós-Traumático + Síndrome do Pânico (que acaba sendo um sintoma do primeiro...). Eu estava em Santa Catarina e, dias depois dessa consulta,
aconteceram as enchentes , que todo mundo deve lembrar e devastaram o Estado. Encontrava-me em uma das cidades atingidas por aquelas chuvas torrenciais, mas não chegamos a sofrer com isso. Quando os ônibus começaram a partir de lá, tentei voltar a Curitiba. Andei uns 5 km e desisti, assim que percebi não ter condições de seguir viagem.


Em dezembro, teve o show da tia, já mencionado. Passagens compradas, alguns encontros programados, hotel reservado. NO DIA em que sairia de Curitiba, rumo ao Rioam de Janeiroam, novamente senti que não CONSEGUIRIA ir. Devolvi as passagens, cancelei o hotel e entrei em contato com quem me acompanharia nessa empreitada para que a pessoa vendesse meu ingresso. Era uma sexta-feira. E eram entradas para a Área Vip (não estou arrotando riqueza, trabalhei feito condenada pra pagar isso, dá licença). No sábado, mais oscilações, muito mimimi e toca pra rodoviária NOVAMENTE comprar passagens. E, como diria a dona dos olhos azuis mais fantásticos que já tive a oportunidade de olhar de perto: "I have no regrets". Ah, vá lá, um ou outro, talvez.


Nesse ano, após um período de intensa euforia, já dava pra antever que lá vinha merda. Naquela fase do pós-operatório que relatei várias vezes
por aqui, novamente mergulhei numa crise profunda. Poucas pessoas tinham "permissão" para chegar perto. O engraçado é que algumas não estavam fisicamente próximas. O critério para eleger os pobres que aguentariam minhas lamúrias foi: duas, além de termos elos fortíssimos, têm a cabeça mais fodida que a minha e uma é amiga de fé, irmã camarada. Além de termos uma linha de raciocínio semelhante, claro.

Foram manhãs, tardes, noites e madrugadas pensando, pensando, pensando TANTO que em alguns momentos a cabeça parecia querer explodir. Embora essa meia dúzia de gatos pingados que me "acompanhou" fosse parte essencial para eu sair do buraco, era a noite, em uma caminha de solteiro, depois de assistir uns seis episódios seguidos de In Therapy que eu chorava. Muito. Por diversas razões: por me sentir incapaz, por ser frustrada profissionalmente, por não ter coragem de dizer aquilo que importa a quem realmente importa, por não me sentir mãe de verdade, por NÃO TER VONTADE para fazer nada para mudar essa situação. O suicídio, claro, era cogitado constantemente. Mas, quem me conhece, sabe que esse não é meu perfil. Eu desejava ardentemente que tudo tivesse um fim, mas não queria que a iniciativa para ESSE FIM partisse de mim, entende? [/Pelé]

No meio desse turbilhão, uma amiga que estava por dentro do caso, sabiamente disse: Acho que a tendência é as coisas melhorarem aos poucos, na cidade que você gosta, trabalhando com gente que você gosta, quietinha lambendo as feridas.

E foi assim, QUIETA, achando que incomodava poucos, que as coisas começaram a entrar nos eixos. Mas, novamente citando a tia, "uncomfortable silence, can be so loud". E minha apatia, meu silêncio, parecia muito mais ofensivo do que se fizesse o ouvido DE GERAL de penico e chorasse um pomar inteiro (pitangas não seriam suficientes).

A verdade é que, pra quem não está no olho do furacão e acha tudo isso uma frescura do caralho, é fácil rotular. Julgar. Concluir. Fechar a conta e passar a régua. E é nessas horas que eu preciso baixar a crista e agradecer aos meus pais por terem me dado uma educação BOA O SUFICIENTE para saber RESPEITAR as pessoas. Porque é TÃO SIMPLES, sabe? Diferenças existem e sempre existirão, acredito que é disso que as relações são feitas. Mas o respeito por elas é fundamental. É não sair por aí, achando-se muito "polêmico" e gritando aos 4 cantos que fulana só procura os outros quando precisa, por exemplo. Na verdade, quando eu mais precisei, não precisei procurar ninguém. As pessoas certas nunca saíram do meu lado.

Pronto, faroestecabocleei.


3 comentários:

  1. o que eu achava era que caetano tava fodendo a vida - como sempre - mas vc já deu um jeito nisso...

    e é isso, minha cara. quando a gente precisa, quem tem que estar, simplesmente está.
    (tenho um nojinho de 'simplesmente', hahaha. Simplesmente Quéroul. bleargh)

    2009 tá acabando, respira, segura na mão de deus, e vai!

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  2. O tempo é um remédio muito bom. Pena que é amargo pra caramba. =/

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  3. "novamente senti que não CONSEGUIRIA ir".

    Passei um bom tempo com este tipo de sensação. Cheguei ao ponto de não conseguir atravessar uma rua sozinha, simplesmente porque não sabia como. Era como se essa e outras coisas tivessem sido desprogramadas. Foi um processo. Até hoje guardo alguns medos e impossibildades, mas a vida é imperiosa: ela é prá frente e sempre. Eu acho. Um beijo.

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